Mais tarde voltarei ao Fernando quando me referir à razão que nos levou a embarcar para Angola e a não fugir.
O Fernando também viveu nos mesmos espaços à volta dos 30km da picada Nambuangongo / Zala, que por muitos anos que ainda possamos viver, será difícil de a esquecer. Serão difíceis de esquecer os locais onde sabíamos de antemão que algo poderia acontecer. Este o da camioneta vermelha era um deles. Nas suas palavras está todo o sentir que nos apertava naquele momento.
Para já fica esse naco da sua poesia, saída do livro Catalabanza, Quilolo e volta:
A camioneta vermelha (sobre a qual já atrás escrevi).
Se há lugar na vossa geografia
para um friável coração de adobe
digo-vos que não trouxe muito mais
dos tiros da Camioneta Vermelha.
para um friável coração de adobe
digo-vos que não trouxe muito mais
dos tiros da Camioneta Vermelha.
A coluna de Zala vinha vindo
tarda como sempre e não se ouviram
durante muitas horas os motores
nesse alto da Camioneta Vermelha.
tarda como sempre e não se ouviram
durante muitas horas os motores
nesse alto da Camioneta Vermelha.
A gente deitava-se nos abrigos,
deitava-se no silêncio e respondia
somente alguma grita de macacos
ali perto na Camioneta Vermelha.
Por ironia, eu estava lendo
um romance de Cardoso Pires
ou talvez poemas de Ruy Belo
sobre a cidade na Camioneta Vermelha.
Digo-vos que não trouxe muito mais
dos tiros cruzados de arma fina
quando o adobe começou a estalar
no meu peito na Camioneta Vermelha.
Queria contar tanta coisa veloz
então acontecida mas não posso
recordar senão esse estampido
caindo súbito na Camioneta Vermelha.
Sou um desgraçado poeta da província
com um rio que no Verão é areia,
algumas casas, algumas flores belíssimas
despropositadas na Camioneta Vermelha.
O meu modo é cantar e eu canto
mesmo que apeteça mandar um balázio
no peito de adobe, o mesmo peito
que estremecia na Camioneta Vermelha.
Por isso aqui estou eu para nuns versos
dizer que o mundo acaba e não acaba
quando a massa de um coração frágil
lembra a cidade entrevista ao longe
longe do alto da Camioneta Vermelha.
deitava-se no silêncio e respondia
somente alguma grita de macacos
ali perto na Camioneta Vermelha.
Por ironia, eu estava lendo
um romance de Cardoso Pires
ou talvez poemas de Ruy Belo
sobre a cidade na Camioneta Vermelha.
Digo-vos que não trouxe muito mais
dos tiros cruzados de arma fina
quando o adobe começou a estalar
no meu peito na Camioneta Vermelha.
Queria contar tanta coisa veloz
então acontecida mas não posso
recordar senão esse estampido
caindo súbito na Camioneta Vermelha.
Sou um desgraçado poeta da província
com um rio que no Verão é areia,
algumas casas, algumas flores belíssimas
despropositadas na Camioneta Vermelha.
O meu modo é cantar e eu canto
mesmo que apeteça mandar um balázio
no peito de adobe, o mesmo peito
que estremecia na Camioneta Vermelha.
Por isso aqui estou eu para nuns versos
dizer que o mundo acaba e não acaba
quando a massa de um coração frágil
lembra a cidade entrevista ao longe
longe do alto da Camioneta Vermelha.
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